quarta-feira, 29 de março de 2017

Os quinze anos da Princesa Ervilha!

É uma menina 
E é minha filha 
É tão pequenina 
Parece uma Ervilha

jes

sexta-feira, 24 de março de 2017

...nothing but disaster

quinta-feira, 23 de março de 2017

Não me assustam nem gritam, os meus mortos...

De vez em quando,
uma emoção em falso,
a ferida abre-se:
e eles entram solenes,
os meus mortos
Migram dos sítios quentes
onde os tenho de cor,
e as folhas do arbusto na varanda
em frente à minha cama
trazem as suas vozes
E quanto mais a luz é sobre a ferida,
mais eles aí estão
Cobre-as, às folhas,
o cortinado da janela larga,
e o que avisto daqui
é só um gume a verde,
estreita faixa de verde,
de nem fotografia,
porque em dança
Não me assustam
nem gritam, os meus mortos,
só me lembram que a chuva
que agora se insinua devagar
lhes foi tempo e morada,
e eles a mim
Que alguns deles olharam
nesta mesma varanda
as mesmas folhas,
mais jovens e mais verdes,
ou que outros deles viram outras folhas,
mais jovens, mas sem cor
Neste tempo de agora que os não tem,
aos meus mortos,
cresceram pouco as folhas,
e a emoção em que os tropeço, e a mim,
não os fazem nascer
( Tomara o lume
que as mantém em vida
fosse o gume na ferida
de os não ter )
Ana Luisa Amaral Sentidos em E TODAVIA, 2015.

terça-feira, 21 de março de 2017

Si pogués fer-me escata i amargar-me a la platja

Pinto les notes d'una havanera
blava com l'aigua d'un mar antic.
Blanca d'escuma, dolça com l'aire,
gris de gavines, daurada d'imatges,
vestida de nit.

Miro el paisatge, cerco paraules,
que omplin els versos sense neguit.
Els pins m'abracen, sento com callen,
el vent s'emporta tot l'horitzó.

Si pogués fer-me escata
i amargar-me a la platja
per sentir sons i tardes del passat,
d'aquell món d'enyoranças,
amor i calma, perfumat de lluna, foc i rom.

Si pogués enfilar-me a l'onada més alta
i guarnir de palmeres el record,
escampant amb canyella totes les cales
i amb petxines fer-lis un bressol.

Els vells em parlen plens de tendresa,
d'hores viscudes amb emoció.
Joves encara, forts i valents,
prínceps de xarxa, herois de tempesta,
amics del bon temps.

Els ulls inventen noves històries,
vaixells que tornen d'un lloc de sol,
porten tonades enamorades,
dones i Pàtria, veles i flors.
Um poema para hoje -  Vestida de nit

segunda-feira, 20 de março de 2017

Equinócio da felicidade

Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar, 
Seria mais feliz um momento ... 
Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural... 
Nem tudo é dias de sol, 
E a chuva, quando falta muito, pede-se. 
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade 
Naturalmente, como quem não estranha 
Que haja montanhas e planícies 
E que haja rochedos e erva ... 
O que é preciso é ser-se natural e calmo 
Na felicidade ou na infelicidade, 
Sentir como quem olha, 
Pensar como quem anda, 
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, 
E que o poente é belo e é bela a noite que fica... 
Assim é e assim seja ... 

Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos - Poema XXI

sexta-feira, 10 de março de 2017

É difícil amar?

Não é fácil, mas é bom. E se não se amar não se vive. Tive uma analisanda — professora de psicologia — que um dia me disse que tinha descoberto que eu era religioso, que o meu deus era o amor. Acho que é verdade. É a coisa que nos mantém, que nos entusiasma e pelo qual vale a pena lutar.
Entrevista a António Coimbra de Matos, por Carolina Reis, no Expresso

quarta-feira, 8 de março de 2017

Flor carnívora

É cálida flor 
E trópica mansamente
De leite entreaberta às tuas
Mãos

Feltro das pétalas que por dentro 
Tem o felpo das pálpebras
Da língua a lentidão

Guelra do corpo 
Pulmão que não respira

Dobada em muco 
Tecida em água

Flor carnívora voraz do próprio 
suco

No ventre entorpecida
Nas pernas sequestrada
Vagina de Maria Teresa Horta

sexta-feira, 3 de março de 2017

Psychological mix up

quinta-feira, 2 de março de 2017

Até onde podemos esticar o amor?

Até à pele do outro ou mais longe?
Será possível que atravesse o tempo, o espaço, que voe por cima do deserto jordano e atravesse o Índico e suba o Hindukush e penetre na boca do Vesúvio, será possível que se estenda para lá da vida, que voe pelo cosmos como aqueles cometas solitários que deambulam milhões de anos numa solidão infinita e silenciosa?
Talvez seja isso tudo, e mais ainda, talvez seja possível enfiá-lo numa garrafa e atirá-lo ao mar para que navegue até ao destino, que é a espinha do amor, que é o que o faz mover...
Afonso Cruz em Nem Todas as Baleias Voam