quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Psst...

visita-me enquanto não envelheço 
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me 
com teu rosto de Modigliani suicidado 

tenho uma varanda ampla cheia de malvas 
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores 

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces 
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo 
subindo à boca sulfurosa dos espelhos 

antes que desperte em mim o grito 
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão 
derrama-se quando tua ausência se prende às veias 
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro 

perco-te no sono das marítimas paisagens 
estas feridas de barro e quartzo 
os olhos escancarados para a infindável água 

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite 
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te 

Al Berto, em Salsugem

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Happiness...

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Se nem o braço me dás...

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Um abraço que demora...

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

É preciso recomeçar a viagem... Sempre...

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
José Saramago em Viagem a Portugal

Porque hoje era o teu aniversário e porque hoje a viagem me surpreendeu


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Dos meio amores...




quinta-feira, 26 de outubro de 2017

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

El otoño... en bucle

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Porque é quase outono...

Dormem os píncaros das montanhas e as ravinas,
os promontórios e as torrentes,
e todas as raças rastejantes que a terra negra alimenta:
as feras das montanhas e a raça das abelhas
e os monstros nas profundezas do mar purpúreo;
dormem as raças das aves de longas asas.

 Nocturno de Álcman, em Poesia Grega. De Álcman a Teócrito, org., trad. e notas de Frederico Lourenço, Lisboa, Cotovia, 2006.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Mmmmm Mmmmmm...



I'll turn the lights low...

terça-feira, 5 de setembro de 2017

shhh...

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa, em Cancioneiro

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Digam o que disserem...



[...] deixa cair um lenço, que eu te alcanço em qualquer lugar...[...]

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

E porque sorris assim no interior do meu desassossego?

Acendo a luz assustado.
Fala-me de lucidez.- Conta-me como é que a linha do horizonte
se traçou no teu peito
em que lado da memória escondeste
o mar.
E porque sorris assim no interior do meu desassossego?
Fala-me de lucidez.
Fala-me, para eu adormecer.
Al berto em  Diários, 2013, Assírio & Alvim, p.412

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

My favorite things...

(...)



sexta-feira, 11 de agosto de 2017

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Y luego los borro a besos...

sexta-feira, 9 de junho de 2017

That pleases me...

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Podia ficar aqui, enquanto a noite respira nas janelas embaciadas

Abro a porta.
Olho constantemente para o mapa
mas já não me lembro para onde queria ir.
Podia ficar aqui,
enquanto a noite respira nas janelas embaciadas.
Os móveis apagam-me os passos
em ângulos cegos
e, nessas sombras do incerto,
deixo que o cansaço me tire a peruca da paciência
assim como a noite nos tira a roupa
antes de dormir.
Isolado num cantinho da boca entreaberta,
o teu sorriso
vai contribuindo para o genocídio dos camarões
que o vinho branco torna sempre menos sangrento.
Poderia, de facto, ficar aqui
enquanto desapareces, por fim, num sono sem importância.
Vou esvaziando os copos
e começo a compilar beijos,
como quem junta, à pressa, moedas caídas pelo chão:
somos todas putas, rapaz,
com ou sem vodka.
Golgona Anghel - in Vim porque me pagavam, Mariposa Azual, 2011

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Do acaso...

terça-feira, 16 de maio de 2017

Hoje...

...permiti-me um vislumbre de Tejo, apimentado pela bruxaria de Lispector...
No retorno, um alheamento, uma paz, merecidos.

terça-feira, 9 de maio de 2017

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Quando me tocas por dentro...

Embarca em mim
Que o tempo é curto
Lá vem a noite
Faz-te mais perto
Amarra assim
O vento ao corpo
Embarca em mim
Que o tempo é curto
Embarca em mim

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Um grito de realidade


Viver para lá do desespero e ainda assim viver frase de Tennessee Williams, inspiração para Nuno Lopes

quinta-feira, 13 de abril de 2017

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Envelhecer...

Foi bonito 
O meu sonho de amor. 
Floriram em redor 
Todos os campos em pousio. 
Um sol de Abril brilhou em pleno estio, 
Lavado e promissor. 
Só que não houve frutos 
Dessa primavera. 
A vida disse que era 
Tarde demais. 
E que as paixões tardias 
São ironias 
Dos deuses desleais. 

Frustração de Miguel Torga, no Diário XV

quarta-feira, 5 de abril de 2017

When the moon hits your eye like a big pizza pie


That's amore
When the world seems to shine like you've had too much wine
That's amore
Bells will ring ting-a-ling-a-ling, ting-a-ling-a-ling
And you'll sing "Vita bella"
Hearts will play tippy-tippy-tay, tippy-tippy-tay
Like a gay tarantella

When the stars make you drool just like a pasta fazool
That's amore
When you dance down the street with a cloud at your feet
You're in love
When you walk down in a dream but you know you're not
Dreaming signore
Scuzza me, but you see, back in old Napoli
That's amore

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Last pics...







quarta-feira, 29 de março de 2017

Os quinze anos da Princesa Ervilha!

É uma menina 
E é minha filha 
É tão pequenina 
Parece uma Ervilha

jes

sexta-feira, 24 de março de 2017

...nothing but disaster

quinta-feira, 23 de março de 2017

Não me assustam nem gritam, os meus mortos...

De vez em quando,
uma emoção em falso,
a ferida abre-se:
e eles entram solenes,
os meus mortos
Migram dos sítios quentes
onde os tenho de cor,
e as folhas do arbusto na varanda
em frente à minha cama
trazem as suas vozes
E quanto mais a luz é sobre a ferida,
mais eles aí estão
Cobre-as, às folhas,
o cortinado da janela larga,
e o que avisto daqui
é só um gume a verde,
estreita faixa de verde,
de nem fotografia,
porque em dança
Não me assustam
nem gritam, os meus mortos,
só me lembram que a chuva
que agora se insinua devagar
lhes foi tempo e morada,
e eles a mim
Que alguns deles olharam
nesta mesma varanda
as mesmas folhas,
mais jovens e mais verdes,
ou que outros deles viram outras folhas,
mais jovens, mas sem cor
Neste tempo de agora que os não tem,
aos meus mortos,
cresceram pouco as folhas,
e a emoção em que os tropeço, e a mim,
não os fazem nascer
( Tomara o lume
que as mantém em vida
fosse o gume na ferida
de os não ter )
Ana Luisa Amaral Sentidos em E TODAVIA, 2015.

terça-feira, 21 de março de 2017

Si pogués fer-me escata i amargar-me a la platja

Pinto les notes d'una havanera
blava com l'aigua d'un mar antic.
Blanca d'escuma, dolça com l'aire,
gris de gavines, daurada d'imatges,
vestida de nit.

Miro el paisatge, cerco paraules,
que omplin els versos sense neguit.
Els pins m'abracen, sento com callen,
el vent s'emporta tot l'horitzó.

Si pogués fer-me escata
i amargar-me a la platja
per sentir sons i tardes del passat,
d'aquell món d'enyoranças,
amor i calma, perfumat de lluna, foc i rom.

Si pogués enfilar-me a l'onada més alta
i guarnir de palmeres el record,
escampant amb canyella totes les cales
i amb petxines fer-lis un bressol.

Els vells em parlen plens de tendresa,
d'hores viscudes amb emoció.
Joves encara, forts i valents,
prínceps de xarxa, herois de tempesta,
amics del bon temps.

Els ulls inventen noves històries,
vaixells que tornen d'un lloc de sol,
porten tonades enamorades,
dones i Pàtria, veles i flors.
Um poema para hoje -  Vestida de nit

segunda-feira, 20 de março de 2017

Equinócio da felicidade

Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar, 
Seria mais feliz um momento ... 
Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural... 
Nem tudo é dias de sol, 
E a chuva, quando falta muito, pede-se. 
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade 
Naturalmente, como quem não estranha 
Que haja montanhas e planícies 
E que haja rochedos e erva ... 
O que é preciso é ser-se natural e calmo 
Na felicidade ou na infelicidade, 
Sentir como quem olha, 
Pensar como quem anda, 
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, 
E que o poente é belo e é bela a noite que fica... 
Assim é e assim seja ... 

Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos - Poema XXI

sexta-feira, 10 de março de 2017

É difícil amar?

Não é fácil, mas é bom. E se não se amar não se vive. Tive uma analisanda — professora de psicologia — que um dia me disse que tinha descoberto que eu era religioso, que o meu deus era o amor. Acho que é verdade. É a coisa que nos mantém, que nos entusiasma e pelo qual vale a pena lutar.
Entrevista a António Coimbra de Matos, por Carolina Reis, no Expresso

quarta-feira, 8 de março de 2017

Flor carnívora

É cálida flor 
E trópica mansamente
De leite entreaberta às tuas
Mãos

Feltro das pétalas que por dentro 
Tem o felpo das pálpebras
Da língua a lentidão

Guelra do corpo 
Pulmão que não respira

Dobada em muco 
Tecida em água

Flor carnívora voraz do próprio 
suco

No ventre entorpecida
Nas pernas sequestrada
Vagina de Maria Teresa Horta

sexta-feira, 3 de março de 2017

Psychological mix up

quinta-feira, 2 de março de 2017

Até onde podemos esticar o amor?

Até à pele do outro ou mais longe?
Será possível que atravesse o tempo, o espaço, que voe por cima do deserto jordano e atravesse o Índico e suba o Hindukush e penetre na boca do Vesúvio, será possível que se estenda para lá da vida, que voe pelo cosmos como aqueles cometas solitários que deambulam milhões de anos numa solidão infinita e silenciosa?
Talvez seja isso tudo, e mais ainda, talvez seja possível enfiá-lo numa garrafa e atirá-lo ao mar para que navegue até ao destino, que é a espinha do amor, que é o que o faz mover...
Afonso Cruz em Nem Todas as Baleias Voam

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Recuperar o tempo...

- É curiosa essa sua obsessão com a morte, com o passado, com tudo o que se perde, com tudo o que se vai. Esses museus...o senhor parece a mulher de Lot a olhar para Sodoma, a transformar-se numa estátua de lágrimas.
-De sal.
-De sal, de lágrimas, vai dar ao mesmo. Senhor Dresner, porque vive nessa luta insana contra o tempo?
Afonso Cruz em Nem Todas as Baleias Voam

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Reiterando, para que fique registado para o mundo...

Há momentos na vida em que precisamos de um canalizador, profissão pela qual nutro uma enorme gratidão. É maravilhoso haver gente que goste e perceba de canalizações para, de rabo para o ar, andar de volta de um cano roto enquanto eu me sento no sofá com um romance de Balzac. Esta minha gratidão leva-me até às sábias palavras de Aristóteles quando invoca a natureza intrinsecamente política do ser humano. Ao contrário de um deus ou de um animal, que se bastam a si mesmos, nós fomos feitos para a polis, precisando dos outros para preencher a parte que nos falta.
(...) Uma casa tem de ser bem construída e com todos os componentes a funcionarem bem. Só assim se pode lá viver confortavelmente e sem grandes sobressaltos. Daí também a minha gratidão para com pedreiros, electricistas, afagadores, pintores ou carpinteiros que fazem as suas coisas enquanto eu ando a falar de teorias filosóficas em aulas onde aproveito para falar dos clássicos da literatura que leio no sofá enquanto o canalizador está de rabo para o ar.
Excertos roubados Daqui

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

My heart forgets to beat...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

e de novo Lisboa e de novo nós...












mãos que acariciam...
vielas a horas mortas
l'amore e Lisboa, sempre...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Almost...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Alimentas-me...


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

e a medida do meu amor viajante...

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.
Pablo Neruda

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Em repeat...like a prayer...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Como siempre, cuando me alejo de ti, me llevo en las entrañas tu mundo y tu vida, y de eso es de lo que no puedo recuperarme...
Frida Khalo

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

...from time to time

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

...ficávamos nos olhos vivendo de um só

Foi para ti 
que desfolhei a chuva 
para ti soltei o perfume da terra 
toquei no nada 
e para ti foi tudo 

Para ti criei todas as palavras 
e todas me faltaram 
no minuto em que talhei 
o sabor do sempre 

Para ti dei voz às minhas mãos 
abri os gomos do tempo 
assaltei o mundo 
e pensei que tudo estava em nós 
nesse doce engano 
de tudo sermos donos 
sem nada termos 
simplesmente porque era de noite 
e não dormíamos 
eu descia em teu peito 
para me procurar 
e antes que a escuridão 
nos cingisse a cintura 
ficávamos nos olhos vivendo de um só 
amando de uma só vida
Mia Couto em Raíz de Orvalho e Outros Poemas