sábado, 28 de maio de 2016

Hoje, enquanto morrias comecei e acabei um livro...

Senti a urgência em ler-te há dias quando me disseram que não durarias uma semana e relembrei as palavras.
Dizias que sempre soubeste que era eu a forte a que sabia o que queria, mas foste tu o que escolheu sem dúvida e o que foi forte até ao fim.
Em mim ficarás sempre num sorriso.


Rui 1971-2016

domingo, 22 de maio de 2016

Amor e...


domingo, 15 de maio de 2016

Almost...free


sexta-feira, 13 de maio de 2016

[e] tardámos no beijo que a boca pedia...

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia 
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia 
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria. 
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia 
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia 
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria 
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia 
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia.
[...]
...meu amor nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto...

Ary dos Santos, excerto de  As Palavras das Cantigas

terça-feira, 10 de maio de 2016

O que foi não é nada, e lembrar é não ver...

Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto, 
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão. 
A ave passa e esquece, e assim deve ser. 
O animal, onde já não está e por isso de nada serve, 
Mostra que já esteve, o que não serve para nada. 
A recordação é uma traição à Natureza, 
Porque a Natureza de ontem não é Natureza. 
O que foi não é nada, e lembrar é não ver. 
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Antes o Vôo da Ave de Alberto Caeiro, em  O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII

Porque estão a chegar as andorinhas e outras avezinhas.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Do esquecimento...

Há um mundo que pertence à margem do Letes.
Esta margem é a memória.
É o mundo dos romances e o das sonatas, o do prazer dos corpos nus que amam a persiana meio-fechada, ou o do sonho, que gosta dela ainda mais encostada, até simular a escuridão da noite ou a inventá-la.
É o mundo das pegas sobre as sepulturas.
É o mundo da solidão que a leitura dos livros ou a audição da música requerem.
O mundo do silêncio tépido e da penumbra ociosa onde vagueia e subitamente se excita o pensamento.

As Sombras Errantes, de Pascal Quignard

sexta-feira, 6 de maio de 2016

The once in a lifetime kind of person

Theres nothing more erotic than a good conversation...

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Hey! Hey! Where did you go?

quarta-feira, 4 de maio de 2016

marcas...

Há homens com quem se pode aprender a ver aquilo que dentro de nós existe e não sabíamos. Reconhecemos-los pelo olhar. Quando se aproximam, a noite reflecte-se clara nos nossos rostos. Têm gestos lentos, precisos, como os dos deuses marinhos que habitaram, além, no mar rente à ilha. Às vezes, quando à hora do calor durmo debaixo duma árvore, aparecem-me em sonhos. Contam que são homens sempre de passagem. Não pertencem a lugar nenhum e raramente pernoitam duas vezes de seguida no mesmo sítio. São homens errantes e muito antigos. Deslocam-se como se fossem sombras. Transportam no coração a euforia de quem viaja. Uma noite conheci um desses homens e toquei-lhe. Veja a queimadura que me deixou nos dedos. Está a ver? Por isso não saio daqui. Guardo e vigio a ilha - como se ela precisasse do meu olhar para se manter um ser vivo. Passo os dias dizendo, em voz alta, os nomes das plantas e dos animais, assim... como se rezasse. E, uma noite, do fundo marinho da ilha virá outro homem, ou um deus, para me ensinar mais coisas sobre estas terras.Vivo nesta charneca que se estende na Cabeça da Cabra até ao mar. Olho fixamente a ilha, mesmo durante a noite, quando ela tem o perfil duma cabeça deitada sobre as águas. Deixo a vida escoar-se ao ritmo das migrações das aves. E ao fim de muitos anos descobri que a ilha é um lugar que cresceu, misteriosamente, dentro de mim. O meu corpo transformou-se em ilha. Olho a ilha, sou a ilha. Mas não te quero demorar mais. Se quiseres, antes de seguires viagem, ensino-te os nomes dos animais. E se me deres a tua mão, queimar-te-ei os dedos, exactamente como queimaram os meus. Depois, poderás partir por essa linha litoral traçada pelo fogo da pele.

O Guardador da Ilha em O Anjo Mudo, de Al Berto