sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Sobre a paciência e as pequenas coisas

É preciso permitir às coisas
seu próprio passo,
quieto, sem perturbações,
oriundo do mais profundo,
sem que sejam acossadas,
sem que sejam aceleradas por nada,
quando tudo é tornar-se — até
dar-se à luz…
Amadurecer como a árvore
que não apressa sua seiva
e aguarda,
sossegada, nas tempestades primaveris,
sem medo de que não chegue mais o verão.
Ele virá sim!
Mas virá apenas para os pacientes,
que aí estão como se a eternidade
estivesse à sua frente,
impávidos, quietos e largos…
É preciso ter paciência
com o inconcluso no peito.
É preciso tentar amar as próprias perguntas
como quartos fechados
e livros escritos numa língua muito estrangeira.
É preciso viver tudo.
Quando se vive as perguntas, vive-se também,
talvez, aos poucos,
sem que se perceba,
no romper de um dia desconhecido,
o começo das respostas.
De Rilke