domingo, 19 de junho de 2011

De Neruda para ti, cujas palavras ainda são longamente aplaudidas de pé, um ano depois...

...são as palavras que cantam, que sobem e descem... 
Prosterno-me diante delas... Amo-as, abraço-as, persigo-as, mordo-as, derreto-as... 
Amo tanto as palavras... 
As inesperadas... As que glutonamente se amontoam, se espreitam, 
até que de súbito caem... Vocábulos amados... 
Brilham como pedras de cores, saltam como irisados peixes, são espuma, fio, metal, orvalho... 
Persigo algumas palavras... São tão belas que quero pô-las a todas no meu poema...
Agarro-as em voo, quando andam a adejar, e caço-as, limpo-as, descaco-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas...
E então revolvo-as, agito-as, bebo-as, trago-as, trituro-as, alindo-as, liberto-as... 

Deixo-as como estalactites no meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes das ondas... 
Tudo está na palavra... Uma ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar, ou porque outra se sentou como um reizinho dentro de um frase que não a esperava, mas que lhe obedeceu... 
Elas têm sombra, transparência, peso, pernas, pêlos, têm de tudo quanto se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raízes... 
São antiquissímas e recentíssimas... 
Vivem no féretro escondido e na flor que desponta...

A palavra, In Confesso que vivi de Pablo Neruda

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