quinta-feira, 10 de março de 2016

...um fio de tempo

Em breve partirei de novo
e caminharei por desertos e por desastres
e por leituras exasperadas e citações,
entre palavras, sem ninguém real que me espere e me abra a porta.
O jantar arrefecerá na mesa,
os meus livros desesperarão
e não haverá sentido que os conforte
e o meu nome, se tiver um nome, não me responderá.
E no entanto um fio de tempo ou um fio de sangue,
ou então algo ainda menos palpável,
o que partiu e o que ficou regressando um ao outro
por galerias intermináveis e sonhos desfigurados,
ausentes um do outro, desaparecendo um no outro
como se esgota a água no fundo de um poço.

Talvez de noite 2. de Manuel António Pina

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