segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ainda falta muito para a noite?


Mais uma vez encontro a tua face,
Ó minha noite que julguei perdida.
Mistério das luzes e das sombras
Sobre os caminhos de areia,
Rios de palidez que escorre
Sobre os campos a lua cheia,
Ansioso subir de cada voz
Que na noite clara se desfaz e morre.
Secreto, extasiado murmurar
De mil gestos entre a folhagem
Tristeza das cigarras a cantar.
Ó minha noite, em cada imagem
Reconheço e adoro a tua face,
Tão exaltadamente desejada,
Tão exaltadamente encontrada,
Que a vida há-de passar, sem que ela passe,
Do fundo dos meus olhos onde está gravada.
A Noite de Sophia de Mello Breyner Andresen

Ainda falta muito para a noite?
Perguntava, pela tarde, a velhinha, no jardim
Queria a noite, o tempo certo para dormir. O cansaço pedia o leito, mas o dia não o permitia...




2 comentários:

jes disse...

O tempo, esse castrador, umas vezes demasiado rápido, outras um irritante pachorrento

Maria Caxuxa disse...

E eu detesto o tempo que nos enforma... Tu sabes.
Ah, e as luzes no tecto. Eheh