As pessoas crianças não precisam que as pessoas adultos imaginem por elas.
A capacidade de criar e recriar ambientes e reinventar a vida é-lhes natural.
Umas mesas e umas cadeiras podem ser os suportes ideais para vender a um qualquer cliente que passa (pai) as bolotas que já começaram a cair ou partes de um velho leque desmembrado.
Uma mãe sentada a ler passa rapidamente a ser um polícia sinaleiro que comanda um trânsito desenfreado de bicicletas.
Espaços como a Kidzania não nascem para ajudar as crianças a brincar aos adultos. Essas práticas existem desde sempre e entre praticamente todos os animais. Imitamos e a brincar aprendemos naturalmente.
Kidzanias pretendem formatar, arrebanhar mentes e fidelizar futuros consumidores, e se não são os pais que os levam ao paraíso do consumo, as escolas com o seu beneplácito, porque até mais sai mais em conta, encarregam-se de colmatar a falha intolerável.
Como dizer não?
Coitadinha, vão todos os colegas! Dizem uns.
Porque eles gostam! Dizem outros.
Questionar o inquestionável já nos valeu olhares de espanto e alguns epítetos alienígenas, mas sabemos que valerá a pena defender o que acreditamos, mesmo que apenas por isso mesmo.
O mundo dos adultos não é, nem deve parecer ser apenas o de trabalhar, para ganhar dinheiro para o consumir em seguida. Tentar reduzir a vida a isso com o intuito obscuro de educar brincando é, não só mutilante, porque exclui a possibilidade de outras opções de mundo, como usurpador da natural capacidade de criar.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
domingo, 29 de setembro de 2013
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
O peso dos vícios
(...) Os dias são Outonos: choram… choram…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!…
Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
António Ramos Rosa 1924-2013
O que é um encontro
breve e interminável sem um adeus final
um encontro é uma viagem fora do mundo
no mundo que nunca é verdadeiramente real
na fantasia ansiosa das palavras vibrantes
nunca é o que é
entre
o que é e não é
imaginária e vocálica
fora da sintaxe convencional
no interior de uma galáxia do vento
no espaço branco de uma alegria sem termo
no ar das palavras na respiração de uma laranja
António Ramos Rosa
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Memórias de um chapéu
Um dia entre a memória e o esquecimento
Colhi aquele chapéu envelhecido
Soltei o pó antigo entregue ao vento
Lembrando aquele sorriso prometido
As abas tinham vincos mal traçados
Marcados pelas penas ressequidas
As curvas eram restos enfeitados
De um corte de paixões então vividas.
Aldina Duarte, excerto de fado Memórias de um Chapéu
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Era uma vez...
...um espaldar, por onde todos subíamos e nos segurava firme e imponente. Foi de todos, e queriam que fosse de ninguém.
Agora é meu.
Alfama
Das escadinhas de S. Miguel, ao Chafariz de Dentro, embalados pelo fado vadio, alfamámo-nos noite fora
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Ainda a propósito do temps qui passe vite
Hoje troquei o meu feio e moderno passe-vite, de um plástico asséptico e sem graça, por este velhinho e delicioso, repleto de memórias
Un jour on se réveille...
...e temos mais de 40 anos e passou depressa demais e questionamos as escolhas, o que nos rodeia, como temos usado o tempo, se nos temos deslumbrado o suficiente com a vida e constatamos que queremos mais.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Ontem vindimámos na rua de cima...
Mosto, descantes e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.
Excerto de O outro livro de Job de Miguel Torga
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