domingo, 4 de março de 2012

Apaixonamo-nos pelas pessoas, quando as escutamos. Amamo-las. E só deixamos de as desejar quando deixamos de as ouvir. Com as casas passa-se o mesmo. Depois fica apenas uma ténue lembrança. Grata. Porque cheia de memórias. 
Permitam-me que insista. As casas são como as pessoas. Porque também haveremos de amá-las mais quando elas deixarem de nos ser. Quando as perdermos. E, então, das duas uma: ou haveremos de desejá-las em ruínas, ou haveremos de desejar a nossa morte. Ou as duas. Depois, não teremos coragem nem para uma coisa nem para outra. Guardaremos essa mágoa. Sobreviveremos.

Em As Casas, de Dóris Graça Dias, João Azevedo Editor, 1991

O poial era só meu, mesmo quando alugávamos a casa aos outros e ficávamos na casinha. Na casa pequenina havia só uma cozinha e um quarto. Vivia lá a avó velhinha e no Verão, nós os quatro e às vezes os primos...A cama era para mim e para o T., o colchão era de palha disforme e gordo. Eu acordava muitas vezes debaixo da cama...
O tempo demorava. Gastávamos os relógios à espera do fecho das ruas ao trânsito. Depois...a liberdade.
Depois, eram mais de cem anos no telhado e à volta a vida tinha que continuar...
Eu... guardei essa mágoa e sobrevivi

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