segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Porque eles gostam

As pessoas crianças não precisam que as pessoas adultos imaginem por elas.
A capacidade de criar e recriar ambientes e reinventar a vida é-lhes natural.
Umas mesas e umas cadeiras podem ser os suportes ideais para vender a um qualquer cliente que passa (pai) as bolotas que já começaram a cair ou partes de um velho leque desmembrado.
Uma mãe sentada a ler passa rapidamente a ser um polícia sinaleiro que comanda um trânsito desenfreado de bicicletas.
Espaços como a Kidzania não nascem para ajudar as crianças a brincar aos adultos. Essas práticas existem desde sempre e entre praticamente todos os animais. Imitamos e a brincar aprendemos naturalmente.
Kidzanias pretendem formatar, arrebanhar mentes e fidelizar futuros consumidores, e se não são os pais que os levam ao paraíso do consumo, as escolas com o seu beneplácito, porque até mais sai mais em conta, encarregam-se de colmatar a falha intolerável.
Como dizer não?
Coitadinha, vão todos os colegas! Dizem uns.
Porque eles gostam! Dizem outros.
Questionar o inquestionável já nos valeu olhares de espanto e alguns epítetos alienígenas, mas sabemos que valerá a pena defender o que acreditamos, mesmo que apenas por isso mesmo.
O mundo dos adultos não é, nem deve parecer ser apenas o de trabalhar, para ganhar dinheiro para o consumir em seguida. Tentar reduzir a vida a isso com o intuito obscuro de educar brincando é, não só mutilante, porque exclui a possibilidade de outras opções de mundo, como usurpador da natural capacidade de criar.

domingo, 29 de setembro de 2013

Nas dobras dos pensamentos...

Diário de um fumador de Simon Gray, in Granta Portugal, número 1, p.145

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O peso dos vícios

(...) Os dias são Outonos: choram… choram…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!…

Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa 1924-2013







O que é um encontro
breve e interminável sem um adeus final


um encontro é uma viagem fora do mundo 
no mundo que nunca é verdadeiramente real
na fantasia ansiosa das palavras vibrantes
nunca é o que é 
entre
o que é e não é
imaginária e vocálica
fora da sintaxe convencional
no interior de uma galáxia do vento
no espaço branco de uma alegria sem termo
no ar das palavras na respiração de uma laranja

António Ramos Rosa

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Memórias de um chapéu
















Um dia entre a memória e o esquecimento 
Colhi aquele chapéu envelhecido 
Soltei o pó antigo entregue ao vento 
Lembrando aquele sorriso prometido 
As abas tinham vincos mal traçados 
Marcados pelas penas ressequidas 
As curvas eram restos enfeitados 
De um corte de paixões então vividas.

Aldina Duarte, excerto de fado Memórias de um Chapéu

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Era uma vez...









...um espaldar, por onde todos subíamos e nos segurava firme e imponente. Foi de todos, e queriam que fosse de ninguém.
Agora é meu.

Alfama





Das escadinhas de S. Miguel, ao Chafariz de Dentro, embalados pelo fado vadio, alfamámo-nos noite fora

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O Paraíso na Graça, numa noite fria...


Life isn't like in the movies. Life... is much harder. 
Alfredo para Salvatore (Toto)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ainda a propósito do temps qui passe vite















Hoje troquei o meu feio e moderno passe-vite, de um plástico asséptico e sem graça, por este velhinho e delicioso, repleto de memórias

Un jour on se réveille...


...e temos mais de 40 anos e passou depressa demais e questionamos as escolhas, o que nos rodeia, como temos usado o tempo, se nos temos deslumbrado o suficiente com a vida e constatamos que queremos mais.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ontem vindimámos na rua de cima...







Mosto, descantes e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.
Excerto de O outro livro de Job de Miguel Torga